Ao longo de 2019 foram inúmeras as crianças que perderam suas vidas para a violência. Infelizmente 2020 vem traçando os mesmos passos, até quando? Com o movimento Vidas Negras Importam, busca-se trazer além de consciência de classe, entender que debater raça é indispensável.
Jenifer Cilene Gomes
Em 14 de Fevereiro de 2019, Jenifer Cilene Gomes, de 11 anos, não foi à escola por medo de passar sozinha em um túnel onde usuários de drogas se reuniam. Ficou em casa. Eis que em uma operação, Jenifer foi atingida por uma bala de arma de fogo. Era o fim de um sonho e a dor de uma mãe nascendo.
Kauan Peixoto
Kauan Peixoto, de 12 anos, admirava o trabalho dos policiais e queria ser um quando crescesse. Em 12 de Maio de 2019, mais um sonho foi interrompido precocemente. Bala perdida eles dizem. Kauan viu os policiais indo em sua direção, mas afirmou “não sou bandido para correr”. Acontece Kauan, que nem sempre a polícia mira só no bandido.
Kauã Rozário
Em 10 de Maio de 2019, a história se repetiu. Em uma operação, policiais perseguiam dois homens em uma moto. Ao atirarem, atingiram Kauã Rozário, 11 anos. Dessa vez, o menino andava de bicicleta no bairro onde morava. Participava de projetos sociais e tinha começado a fazer aulas de jiu-jitsu. Mais uma Dona Maria chora.
Kauê Ribeiro
“Nunca vou me envolver com tráfico, não quero morrer como bandido” – Relatou a mãe de Kauê Ribeiro após perder o filho de 12 anos para um tiro na cabeça, novamente bala saída da arma de fogo de policiais. Kauê jogava em uma escolinha e vendia balas para pagar a chuteira e o uniforme. No dia 8 de setembro, ao terminar de vender as últimas balas, Kauê subia o morro para voltar para casa. Nunca chegou.
Ágatha Vitória
A 5ª criança morta no Rio de Janeiro no ano de 2019, foi Ágatha Vitória, 8 anos. Após um passeio com a mãe, Ágatha voltava para casa em uma kombi, quando foi atingida por uma bala nas costas. Caso com grande repercussão, a secretária de segurança pública do Rio de Janeiro teve que dar respostas. Esse foi o único assassinato de crianças com culpados responsabilizados.
Anna Carolina de Souza
A primeira morte causada pela violência no Rio de Janeiro em 2020, veio em 9 de Janeiro. Anna Carolina de Souza, 8 anos, foi atingida por uma bala perdida no sofá. Dentro de casa.
João Pedro Mattos
Em 18 de Maio, 2020, a história se repete. Em meio a uma pandemia, João Pedro Mattos perdeu a vida para a violência do Rio de Janeiro. “Eles entraram atirando”, “falamos que só tinha crianças em casa” – mas de nada adiantou. João Pedro foi assassinado, aos 14 anos. O que mais revolta, é que João Pedro foi levado de helicóptero, baleado, sozinho, sem que nenhum parente pudesse acompanhá-lo. Depois de 16 horas sem notícias, a família foi informada que o corpo estava no IML.
Inocência levada em vão
Eram crianças, com sonhos, vontades, objetivos. Todas tinham em comum características que por vezes são sentenças de morte: eram petras, pobres, moravam em favelas no Rio de Janeiro e, em sua maioria, crianças criadas por mães solteiras. A inocência foi levada, destruída, massacrada. Até quando terá que ser provado que vidas negras importam?
Ao serem assassinadas, não são apenas as vidas dessas crianças que se vão, a família morre junto, o morro morre junto, a raça preta morre junto. Mas, a classe privilegiada não sente, não percebe, relativiza, normaliza. E ainda vão além, buscam motivos que possam ter levado a violência até essas crianças. Mas não tem motivos. É morte por morte. A polícia militar e o governo estadual justificam que essas mortes são espécies de erros que temos que engolir, afinal, a polícia estava fazendo o seu papel.
O ponto é: não vemos a polícia fazer esse mesmo papel na zona sul, no bairro rico, boêmio. Lá na Barra a polícia chega de mansinho, isso quando chega. É preciso, de uma vez por todas, mostrar que vidas negras dos pobres favelados é tão importante quanto qualquer uma outra.
E a responsabilidade, é de quem?
A criança que nasce preta, pobre, de periferia, tem que se provar 2, 3x mais. Tem que conviver com a pobreza, falta de itens básicos, aprender a lidar com a violências em todas as formas logo cedo. Na televisão, “ver o pobre, preso ou morto, já é cultural” (Negro Drama, Racionais).
Nada traz de volta a vida dessas crianças que logo cedo tiveram sua vida ceifada pelas mãos do poder público, o qual deveria protegê-las. Mas, a cada preto favelado que alcança a sua forma de sucesso, temos que bater palmas. Ovacionar. Afinal, para chegar ali foi preciso passar por obstáculos que a classe privilegiada nem sonha que acontece no morro, nas comunidades, periferias.
Pedir e sonhar para que um dia nenhuma mãe chore sob o corpo baleado do seu filho é utopia, por isso, por hora, cobramos o poder público. Que seja investigado e o culpado seja responsabilizado. É preciso que a polícia militar entenda que, ao subir o morro, a operação não deve ser executada como uma caça, na qual o alvo são pessoas que ali vivem.
O Surto do Dia acredita que debater assuntos de raça é indispensável para deixar cada dia mais claro, na sociedade, que crimes de racismo e preconceitos não devem ser tolerados — o mesmo para violência policial em morros e favelas.
Quem Teve O Surto do Dia
- O surto acima foi escrito por Juliana Santos, formada em Publicidade e Propaganda e entusiasta do marketing digital. Sou apaixonada por animações, inclusive, Moana é a melhor animação da Disney e só minha opinião importa! hahaha… Amar viajar é um traço que meu signo proporciona. Como uma boa sagitariana, amo estar na estrada, ainda mais se o destino for praia, cachoeira, chácara ou sítio. Aquele pé no mato que a capital São Paulo não proporciona rsrs
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