Furei minha orelha 13 vezes

Furei Minha Orelha 13 Vezes e fui parar no Pronto Socorro

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O Surto do Dia de hoje é um pouco diferente. É um relato de uma adolescente que queria muito, muito mesmo, usar brincos.

Tudo começou quando em 2008 quando a moda era ter brincos compridos de pena. Aquilo era uma febre na meninada de SP. Todas as meninas populares da minha escola tinham pelo menos dois modelos de penas coloridas para usar. 

E se você não faz ideia do que eu estou falando, é esse brinco aqui que me fez desejar tanto fazer parte de uma modinha:

Brinco de Pena

Mas eu também tinha outros sonhos do que fazer com a minha orelha! Eu queria usar argolas enormes, do tamanho do meu pescoço. Eu queria ter uma coleção de brincos divertidos, eu queria que minhas orelhas fossem reconhecidas como as orelhas mais bem vestidas da minha escola. 

Foi assim que brevemente conversei com a minha mãe – pois na minha época ainda tínhamos que pedir autorização pra furar a orelha e colocar brincos – e fomos naquelas farmácias de bairro. 

Na minha doce e inocente cabeça, eu não fazia a menor ideia de como era a perfuração do brinco. Minha mãe contou que usavam uma pistola e que o barulho assusta mais do que a dor em si. 

Ingênua como eu era – pelo menos pra alguns assuntos – achei mesmo que era uma pistola de verdade onde o farmacêutico atiraria à distância na minha orelha enquanto eu rezava para ele acertar o lugar correto. 

Percebi que não era nada disso quando a tal pistola parecia mais aquelas usadas com cola quente e o “tiro” não era dado à distância. 

A dor da perfuração foi bem tranquila. Eu não estava pensando nos cuidados, no fato de não conseguir dormir de lado ou doer para usar fones de ouvido. 

A única coisa que eu pensava era no brinco de pena. 

Minha primeira frustração foi saber que eu precisava ficar com aquele brinco horroroso de farmácia por algumas semanas. 

Também precisava cuidar da perfuração, limpando a região com cuidado. 

Acho que esse é um bom momento para contar que eu não era a adolescente mais preocupada do mundo com a higiene das coisas. Com os brincos não foi o contrário. 

Eu demorava bastante tempo para limpá-los e acaba a me enojando com o cheiro que eles ficavam. Outro grande problema era tentar colocá-los novamente no furo. 

Veja bem, eu já contei aqui que eu morro de medo de agulhas, mas o que nunca disse é que eu passo muito mal quando tenho que colocar meu piercing, por exemplo. 

Sentir cada milímetro da jóia entrando na pele me faz querer desmaiar toda vez. 

Além disso, eu tinha a nítida sensação de que a perfuração não tinha sido feita direito. Era como se o furo não estivesse reto e a partir do momento que eh colocava o brinco no furo da frente, não conseguia achar o furo de trás da orelha. 

Todo esse auê de limpeza, tortura pra colocar novamente o brinco, dor ao deitar de lado e principalmente a gastura de sentir meu cabelo prendendo nos brincos, me fez desistir antes mesmo de sequer trocar de brinco. 

A segunda vez que furei minhas orelhas

Não muito tempo depois, decidi que deveria furar novamente e dar uma chance de realizar meu sonho tão distante. 

brincos

Fiz o furo e consegui chegar ao ponto de trocar o brinco de farmácia por um que eu realmente gostasse. 

Minha mãe me deu um brinco de libélulas de ouro pois temia que eu tivesse uma reação alérgica à bijuterias. 

Então o combinado era de que eu usaria brincos de ouro primeiro e em seguida poderia utilizar bijus. 

Eu não consigo lembrar bem o por quê de ter deixado meus furos fecharem na segunda vez. Mas acredito que tenha sido um misto de pura preguiça de cuidar deles com o fato de que eu perdia todas as tarraxas, todas mesmo. 

Furei minha orelha pela terceira vez

É estava decidida de que agora era a hora de fazer tudo acontecer. Afinal, eu tinha que realizar meu sonho e já tinha te mesmo comprado diversos brincos para a linha futura coleção. 

A adolescente que eu era me permitiu não enxergar a vergonha alheia que seria usar brincos de emojis, mas eu estava feliz e animada. 

Para a alegria da farmácia do bairro, lá estava eu mais uma vez, pagando para ser furada novamente. 

Essa foi a época que eu mais usei brincos diferentes. No entanto, nunca achei para comprar os famosos brincos de pena e apenas ficava invejando as populares por terem todo aquele estilo.

Consegui usar brincos normais, até mesmo o do emoji que era bem pesado e deixava a orelha vermelha. 

Quando num belo dia, achei que iria perder uma outra tarraxa e decidi apertar mais próxima da minha orelha. 

Eu ainda mantinha hábitos bem ruins de higiene e demorava muito tempo para limpar os brincos. 

Passaram-se dias quando eu senti um cheiro muito forte vindo da minha orelha direita. 

Tentei mexer no brinco e a dor latejante me atingiu como um raio. 

Tinha alguma coisa errada acontecendo! 

Outro detalhe importante sobre esta autora é que na adolescência eu raramente falava para alguém quando algo de errado estava acontecendo comigo. O que me levou a ficar dias com a orelha daquele jeito sem falar nada à ninguém. 

Quando percebi que não podia fazer mais nada a não ser procurar ajuda da minha mãe, contei o que estava acontecendo e pedi ajuda para tirar o brinco. 

Foi quando minha mãe disse que não tinha nenhuma tarraxa na parte de trás da orelha. Entendemos que isso só podia significar uma coisa… Minha orelha tinha engolido a tarraxa 🙂 

A visita ao hospital

Furei minha orelha 13 vezes

Precisamos ir em dois prontos socorros até achar algum médico disposto a resolver o problema da minha orelha comilona.

No primeiro hospital, não haviam médicos especializados em orelhas (?) e o doutor que estava lá tentou retirar a tarraxa na mão, o que fez com que o lóbulo, que já estava bem ruim, ficasse roxo.

No segundo hospital, avaliaram o caso sem precisar tocar na minha orelha flamejante. Depois decidiram tentar retirar a tarraxa com uma pinça, sem sucesso.

Foi quando perceberam que o problema era um pouco mais grave.

Alergia a brincos e outras coisas

Eu sempre fui uma pessoa cheia de alergias. As vezes eu sentia que tinha alergia até mesmo de água. Apesar de ter feito diversos tratamentos, nunca chegaram em uma conclusão do que poderia me ajudar de fato.

Com os brincos não foi diferente!

Minha orelha tinha engolido a tarraxa e começou a fechar o furo de trás! Então tínhamos alguns problemas naquele momento… Tinha uma tarraxa dentro do meu lóbulo, o furo estava praticamente fechado e eu ainda estava usando o brinco normalmente.

Foi nesse momento que os médicos decidiram que eu tinha que fazer uma micro cirurgia.

A minha cirurgia

Eu estava bem triste pois naquele dia eu tinha combinado de encontrar meus amigos na liberdade para ficar ensaiando coreografias de animes.

Tinha avisado eles de que eu não tava legal e contei toda a história bizarra que tava acontecendo comigo. Na minha cabeça eu iria fazer a cirurgia e em uns 15 minutos estaria no vão do metrô da liberdade dançando com músicas de J-Pop.

A dor era tanta que eu mal senti quando eles me colocaram no soro e anestesiaram minha orelha, que parecia do tamanho da minha cabeça!

A parte boa de fazer uma cirurgia acordada é que você sabe exatamente o que acontece. A parte ruim de fazer uma cirurgia acordada é saber exatamente o que acontece.

Mas fico feliz que minha mãe esteve do meu lado o tempo todo segurando minha mão e que o médico foi bem simpático e bonzinho.

brincos
Como eu iria buscar pão na padaria se eu tivesse brincos

Senti algo coçando no pescoço enquanto o doutor conversava com minha mãe e quando fui coçar percebi que aquilo escorrendo no meu pescoço era sangue. Muito sangue!

Por sorte, eu ainda não era a pessoa cagona que sou hoje e lidei numa boa com o fato de alguém cortando minha orelha em dois para tirar uma porcaria de uma tarraxa.

A micro cirurgia durou mais ou menos uma hora desde a anestesia até os pontos (que doeram do começo ao fim).

No final, sai com a famigerada tarraxa na mão, com a cabeça enfaixada, dando risada por causa dos remédios que tinha tomado na veia e louquinha pra contar essa aventura para os amigos.

Um detalhe importante é que o médico deixou bem claro que eu não poderia usar brincos, nunca mais.

Mas isso não me impediu de furar as orelhas mais 10 vezes na esperança de que em algum momento eu venceria pelo cansaço!

As outras 10 vezes

Não foram tããão interessantes quando a minha breve visita ao hospital.

Todas elas resultaram em alguns problemas de inchaço, alergia, dor e por fim, desistência.

Uma das vezes que furei a orelha me lembro da moda dos piercings e alargadores.

Tentei alargar o meu em casa e não consegui. Então no dia seguinte pedi para uma amiga do colégio para colocar um piercing e ela o fez sem dó nem piedade.

Na época não tínhamos noção de nada e acabamos passando álcool gel dentro do furo recém alargado. Nem preciso dizer o quanto isso doeu na época né?

meu piercing
Aliás, é um cigarro de papel, ok?

Mas como lembrança do meu momento de rebeldia e desobediência médica, tenho essa foto que considero incrível e guardo no coração com muito carinho.

A vontade de furar uma 14° vez ainda existe. Muita coisa mudou desde que eu era uma aborrecente…

Meus hábitos de higiene melhoraram 100%, minhas alergias a tudo e qualquer coisa simplesmente diminuíram e eu até mesmo consegui colocar três piercings em áreas diferentes do corpo. Mas o medo de furar novamente surgiu e é o que me impede de continuar essa saga.

E para quem ficou curioso, eu ainda tenho a cicatriz na parte de trás da orelha, porquê minha cicatrização é péssima.

Acredito que nunca vou poder realizar o sonho de infância de usar brincos de pena. Até porque, enquanto crescia, percebi que eles eram muito bregas e despertavam fortemente meu lado mais obscuro “de humanas”. Mas quem sabe eu não consiga furar minhas orelhas e utilizar apenas brincos de aço cirúrgico?

Quem Teve O Surto do Dia

Fabiane Sutiak
Fabiane Sutiak
Eu sou a Fabi! Formada em Marketing Digital, com Pós Graduação em Psicopedagogia. Minha paixão é jogar vídeo games e falar sobre isso aqui no Surto do Dia, no Tiktok e as vezes no Youtube.

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